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30/08/2016
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 4 minutos

Dema: comunidade celebra memória de 15 anos de assassinato

Por Élida Galvão

Fundo Dema


Anualmente lembrado como um dia marcante, o dia 25 de agosto entra para a história do Fundo Dema com a simbologia de luta e resistência em defesa da justiça socioambiental e dos povos da Amazônia. Este foi o dia em que Ademir Federicci, popularmente conhecido como Dema, fora brutalmente assassinado na região da Transamazônica, no ano de 2001. Para resgatar a trajetória de militância deste sindicalista e firmar a ação coletiva contra o avanço capitalista e a destruição da biodiversidade e dos modos de vida dos ‘Povos da Floresta’, no dia em que antecedeu o aniversário da morte de Dema, os movimentos sociais de Medicilândia – município em que residiu desde sua chegada à região – promoveram um encontro em homenagem à sua memória.

Representantes do Comitê Gestor do Fundo Dema participam de homenagem

No dia 24 de agosto, familiares, amigos e companheiros de militância de Dema estiveram reunidos na sede paroquial Imaculada Mãe dos Pobres. Na ocasião foram apresentados comoventes depoimentos, além de exposição fotográfica de sua trajetória de luta que possibilitou uma análise crítica sobre os desafios colocados para os dias atuais e uma debate aprofundado em torno do conceito de ‘bens comuns’.

Na atividade coordenada por José Ripardo, representante da Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), entidade que integra o Comitê Gestor do Fundo Dema, os participantes levantaram diversas reflexões e em seguida pontuaram propostas de luta de forma a atender os desafios colocados diante da gestão dos bens comuns na região.    

No dia seguinte (25), comemorando a chuva caída à noite após um longo período de seca na região, um conjunto de mais de cem pessoas se reuniu na comunidade Nossa Senhora da Paz, às proximidades da residência de Dema, para prestigiar uma cerimônia solene iniciada com a plantação de uma muda de árvore no espaço. Em seguida, dezenas de mudas foram distribuídas aos participantes que também tiveram a oportunidade de semear vida na localidade.   

Na ocasião também foi inaugurado o barracão comunitário, reformado por meio do projeto ‘Mulheres Agricultoras – formação e geração de renda sustentável no meio rural’, desenvolvido pela Associação Nossa Senhora da Paz, com o apoio do Fundo Dema. Destinado à realização de atividades produtivas sustentáveis, o barracão foi abençoado por Dom José, bispo da Prelazia do Xingu, com a presença dos familiares de Dema.

Inauguração do barracão comunitário

Estando presente na homenagem feita ao militante, o presidente do Comitê Gestor do Fundo Dema, Matheus Otterloo, ressaltou a importância do apoio à comunidade. “Mais do que um projeto, esta realização significa uma doação decidida pelo Fundo Dema como homenagem à memória do Dema e à continuação da luta da sua comunidade. Hoje já se somam mais de 450 pequenas inciativas dos agricultores familiares na região dinamizadas com o apoio do Fundo Dema. O exemplo e o sacrifício do Ademir permanecem mais do que vivo, não somente acentuando a luta pelos direitos humanos, mas especificando dentre desta perspectiva também a defesa dos direitos da natureza”, disse.

Ao fim do momento de confraternização, Irmã Benedita foi anunciada por Dom José como a nova representante da Prelazia do Xingu junto ao Comitê Gestor do Fundo Dema. Ela passa a substituir, portanto, Irmã Inez Wenzel, que atualmente se dedica à luta do coletivo ‘Xingu Vivo’.

História de Dema

Dema nasceu no Sul do país e migrou com seus pais e irmãos para a região da Transamazônica no Pará, em 1975. Fixando moradia em no município de Medicilândia, Dema construiu uma trajetória de vida marcada pela atuação em diversos movimentos sociais. Atuou na coordenação da Pastoral da Juventude (PJ), foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município (STR) e do  movimento social regional (MPST). Também foi vereador pelo PT e sempre denunciou a retirada ilegal de madeiras em terras indígenas e fraudes na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). 

No início dos anos 2000, Dema liderava um grande movimento de resistência à construção do Complexo Hidrelétrico do Belo Monte (CHE Belo Monte). Lutou para manter a rodovia Transamazônica e suas vicinais, em condições de tráfego, para assegurar educação e saúde e, na última década, para proteger as áreas de florestas, os rios e as terras dos índios da ganância de grileiros e empresas destruidoras.

Dema liderou três caravanas da Transamazônica à Brasília, sendo que em uma delas, ocorrida em 1992, 300 pessoas da região escreveram com seus corpos “A Transamazônica não pode esperar” na rampa do Palácio do Planalto. Fruto desse ato foi a conquista de recursos para tirar a rodovia do esquecimento, recuperando a estrada e ampliando os serviços de saúde e educação. Esse foi o grande marco do Movimento pela Sobrevivência na Transamazônica (MPST), do qual Dema foi um dos líderes mais destacados.

Como sindicalista, Dema esteve à frente da luta pelo crédito bancário a partir de 1992, participando das mobilizações em todos os “Gritos do Campo” e “Gritos da Terra Brasil”. Coordenador do Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX, ex-MPST), ele estava à frente de 113 organizações rurais e urbanas, empenhadas no projeto regional conhecido como “Consolidação da Produção Familiar e Contenção dos Desmatamentos na Transamazônica e Xingu”.


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