FASE e Fundo Dema realizam encontro de mulheres frente à mineração
Por Elmaza Sadeck
A opressão que a mineração instaura vai para além da destruição da floresta e do rio, ela gera violência de gênero, classe e raça, e dentro desse cenário as mulheres são as mais afetadas. Foi pensando nesse debate que a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), junto com o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR) e a Federação da Associações de Moradores e Comunidades Agroextrativista da Gleba Lago Grande (Feagle), realizaram nos dias 21 e 22 de maio, o primeiro ‘Encontro de Mulheres do Baixo Amazonas Frente a Mineração no município de Santarém’.
Com o objetivo de discutir sobre a ameaça que a região do baixo Tapajós-Amazonas vem enfrentando com o avanço da mineração, mulheres de vários territórios que já são atingidos e também de coletivos e movimentos sociais estiveram reunidas para trocar suas vivências.
A região hoje tem vivido um avanço da destruição da floresta, dos rios e da vida das pessoas. Além da mineração, o garimpo ilegal e o aumento do desmatamento têm avançado no território com o discurso de desenvolvimento, mas a realidade mostra o contrário, o aumento dos conflitos pela terra e pela água, a violência física e moral, e principalmente a perda gradativa do vínculo entre as pessoas e o território.
Por isso, para Maura Arapiun, que faz parte da coordenação do departamento de mulheres indígenas do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), “essas rodas de conversas, esses momentos são muito oportunos pra gente fortalecer essa união principalmente com as mulheres em defesa do nosso território. Então são discussões que somam na defesa do nosso território, na esperança de dias melhores, de que nós podemos sonhar com um futuro melhor para as novas gerações e também para as que ainda estão aqui. Essa união das mulheres indígenas com as mulheres negras e com os movimentos sociais só tem a somar na luta em defesa do nosso bem-viver, que é o nosso território”.
Os danos e violações provocadas pela mineração nos territórios e na vida das mulheres foi o centro do debate. Geralmente, nos lugares em que a mineração se instaura o índice de abuso sexual é altíssimo, já que a mineração consiste em um setor dominado por homens, e as poucas mulheres que conseguem entrar precisam lutar dia a dia pela vida.
A mineração tem em sua essência a substituição da economia de subsistência, como a agricultura familiar, por uma economia baseada no dinheiro. Esse novo modelo de sociedade influencia para a destruição de hábitos culturais daquele local que são essenciais para a união das comunidades, e esse processo marginaliza principalmente a mulher.
A destruição ambiental que a mineração provoca reduz a produtividade da terra e em muitas vezes contamina nascentes, igarapés e rios inteiros, afetando principalmente o modo de vidas de quem está no território, mas também de quem está na cidade. “Essa roda de conversa pra nós é muito importante porque a gente adquiriu mais conhecimento e com isso nós vamos ter forças pra continuarmos a nossa luta contra o minério, porque ele está prejudicando muito a nós, tanto o ribeirinho, como no Planalto, na cidade, todo canto porque através da água, do peixe que ainda é até então é o que nós comemos mais” relata Maria Emília, do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém (STTR) e representante das Flores do Campo – Associação de Mulheres da Agricultura Familiar.
Além do entendimento de como a mineração atravessa e impacta a vida das mulheres, a união e fortalecimento dos movimentos foi citada como um ponto importante para enfrentar esses projetos, além de usar estratégias como a comunicação como aliada na resistência. Livia Kumaruara, coordenadora do departamento de comunicação do CITA, explica a importância.
“Para o enfrentamento dessas atividades que vem impactando a gente, temos fortalecido a nossa rede de comunicação que é muito importante, cada vez mais a gente enxerga isso como um mecanismo de luta e a gente está levando isso mais fortemente para dentro dos territórios pra fazer esse combate, porque hoje a gente se depara com muitas fake news e a gente não está nesses veículos maiores de mídia, então temos que fortalecer o nosso coletivo de base, de mídias alternativas pra que a gente consiga fazer um enfrentamento direto sobre essas questões que vem nos impactando sobre a mineração, sobre o mercúrio, sobre a contaminação dos nossos corpos, a contaminação dos rios, sobre as mortes dos nossos encantados que vem ocorrendo de forma progressiva” relata.
O encontro teve ainda um painel de debate com representantes de movimentos sociais como: Auricélia Arapiun (CITA), Keyse Oliveira (AMTR/FEAGLE), Elisângela Silva (STTR-STM) e Luane Fróis (Coletivo Negro), e faz parte de uma série de atividades preparatórias para o Fórum Social Pan Amazônico (Fospa), que ocorrerá dos dias 28 a 31 de julho, em Belém.