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16/09/2016
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 4 minutos

Fundo Dema realiza monitoramento e sistematização de projetos em Gurupá

Por Élida Galvão

Fundo Dema


Localizado em uma região diretamente afetada pela construção do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, às margens do Rio Amazonas e próximo à foz do Rio Xingu, o município de Gurupá reúne um importante histórico de luta e resistência territorial. Integrando esta trajetória, desde 2005 o Fundo Dema vem apoiando as iniciativas coletivas no município. Ao todo, já se somam 20 projetos comunitários voltados ao fortalecimento da agricultura familiar e à garantia de justiça socioambiental na região. De forma a mapear e avaliar as ações estratégicas de resistência e luta no território, no período de 17 a 23 de agosto o Fundo Dema se fez presente em Gurupá para realizar oficina de sistematização e visita a projetos finalizados e em andamento.

Durante os dois primeiros dias de atividade, 17 e 18 de agosto, representantes de organizações de comunidades apoiadas estiveram reunido/as na sede da Casa Familiar Rural de Gurupá, para participar de atividade que contribuiu para o monitoramento e a sistematização de dados de iniciativas coletivas apoiadas na perspectiva da justiça socioambiental e dos Bens Comuns. 

 

Oficina de sistematização de sendo realizada na Casa Familiar Rural de Gurupá 

A atividade possibilitou ainda resgatar a atuação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Gurupá que, em parceria com a Federação de Órgão Para Assistência Social e Educacional (FASE), lutou pela regularização fundiária que garantiu a consolidação da propriedade rural aos diversos grupos sociais que vivem da terra e dos recursos naturais para viver, democratizando, assim, o uso da terra e garantindo a proteção ao meio ambiente.

“No final da década de 70, cerca de 10 famílias detinham todas as terras do município de Gurupá. As outras famílias eram subordinadas àquelas que mandava e decidiam o que fazer e quanto tempo elas ficariam lá e saiam sem direito a nada (…). Os conflitos gerados a partir disso exigiu que estudássemos sobre os direitos que tínhamos em relação à terra. Passamos a lutar para que nossos direitos fossem reconhecidos e com isso conseguimos reconquistar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Em 1987, a partir de um projeto da FASE, criamos um modelo de regularização fundiária”, salienta Pedro Vieira sobre a importância da participação da FASE neste processo democratização da terra.

Pedro Vieira participou do processo de regularização da terra em Gurupá

Fundo Dema em Gurupá

Em Gurupá, o Fundo Dema já apoiou 17 projetos pelo fundo fiduciário e três iniciativas em parceria com o Fundo Amazônia, envolvendo mais de 90 comunidades e beneficiando diretamente mais de quatro mil pessoas. Estas experiências estão localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Itatupã-Baquiá, em territórios de comunidades quilombolas e no assentamento agroextrativista do Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária (Incra) intitulado ‘Ilha Grande de Gurupá’, regiões marcadas, tanto na sua criação quanto no seu desenvolvimento, pelo impulso dos movimentos sociais que até hoje fortalece a dinâmica de vida das comunidades e de gestão das associações.

Morador da RDS Itatupã-Baquiá, Josinaldo Moreira destaca a importância do apoio do Fundo Dema diante das dificuldades de acesso a políticas públicas. De acordo com o integrante da Associação dos Trabalhadores Rurais Agroextrativistas do Itatupã Baquiá (Atraieb), que desenvolve o projeto “Fortalecimento da Economia Familiar e Valorização dos Produtores Extrativistas”, contemplado na 1ª Chamada Pública, este apoio tem proporcionado o fortalecimento da economia familiar da região. “Inicialmente o projeto objetivava o aproveitamento das sementes nativas, porém, ao longo de seu desenvolvimento, em meio aos diálogos proporcionados nas oficinas, a comunidade percebeu a necessidade de fazer mudanças positivas no projeto. Podemos dizer que a política do Fundo Dema tem sido extremamente favorável para a nossa organização”, avalia Josinaldo.

Apoio a projetos coletivos pelo bem comum

Após a realização da oficina, no período entre os dias 19 e 23 de agosto, a equipe do Fundo Dema partiu para a visita em diversas comunidades de forma a acompanhar o desenvolvimento dos projetos apoiados. Entre as experiências apoiadas destacam-se os fornos ecológicos desenvolvidos por comunidades quilombolas para a produção de farinha. Contemplados na 1ª Chamada Pública Quilombola – lançada em 2011 pelo Fundo Dema em parceria com a Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu), por meio do apoio do Fundo Amazônia –, os projetos ‘Casa e Forno Ecológico Eficiente de Farinha’ e ‘Forno de Farinha Ecológico e Eficiente’, respectivamente desenvolvidos pela Associação das Comunidades dos Remanescentes de Quilombos do Município de Gurupá (ARQMG) e Associação dos Remanescentes de Quilombo Jocojó (ARQJO), concluíram um experimento bastante benéfico quanto à redução de impactos ambientais e melhoria de vida das famílias.

“Esse projeto foi muito gratificante porque nos ajudou a ter uma casa de farinha mais organizada, coberta. O forno que era tradicional maltratava muito a vista da gente por causa da fumaça e como este tem a descarga da lenha [chaminé], a fumaça sai toda pra cima sem prejudicar a vista da gente. Além disso, o gasto de lenha diminuiu uns 50 por cento, fora a ampliação do espaço que contribui para o asseio da produção. Eu digo que esse foi um dos melhores projetos que tivemos de atendimento”, comemora seu Domingos, que integra o núcleo familiar da casa de farinha de número cinco, do projeto desenvolvido pela ARQJO.

Forno ecológico com chaminé contribui para a qualidade de vida das famílias produtoras de farinha

Mãe de seis filhos, D. Lúcia Vieira, moradora da comunidade de Carrazedo, sustenta a sua família com a produção da roça, que é cultivada por seu companheiro, e com a farinha que produz com o suporte do forno ecológico. “A nossa produção é mais para consumo familiar, só para o nosso sustento. Essa casa de forno ajudou bastante porque antes a gente só tinha uma”, comemora a agricultora cujo forno ecológico em que produz a farinha é compartilhado com outras dez famílias representadas pela ARQMG.

Em Carrazedo, D. Lúcia compartilha o forno ecológico com outras famílias que também produzem farinha

De forma a socializar as implicações positivas nas vidas das comunidades da região de Gurupá, em breve o Fundo Dema irá sistematizar e divulgar as ações desenvolvidas no território, partindo de um histórico de luta e resistência coletiva pela regularização fundiária da terra.


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