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24/06/2019
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 4 minutos

Fundo Dema realiza oficina de diagnóstico no território do Conde

Por Élida Galvão


|  Solange Gayoso e Marcel Hazeu, do Gesterra (UFPA), falam sobre a exploração do capital na Amazônia

“Muito fluxo de doença… alergia, alergia, alergia. Os meus filhos lá em casa só vivem com alergia. É do pulmão, é tosse… olha como tá a minha mão de alergia. Agora eu queria saber do que é. É poluição direto”, diz Raimunda Souza, da Cooperativa dos Pescadores de Vila do Conde. Assim como a pescadora, muitas outras pessoas, moradoras da localidade relataram diversos problemas sofridos e ameaças territoriais com a chegada de grandes empresas à região do Conde, em Barcarena.

Os relatos ocorreram em meio à Oficina de Diagnóstico realizada na última sexta-feira (21.06), no Centro Comunitário de Vila do Conde, pelo Fundo Dema em parceria com Grupo de Estudo Sociedade, Território e Resistência na Amazônia (Gesterra), da Universidade Federal do Pará (UFPA). A atividade se constitui em uma das etapas do Plano de Trabalho do Fundo Socioambiental Barcarena e Abaetetuba, administrado sob responsabilidade jurídica da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)/Fundo Dema.

Cerca de 40 pessoas, entre lideranças e moradores das comunidades e localidades dentro do território do Conde, estiveram presentes na oficina que estimulou reflexão sobre a chegada das empresas na Amazônia e as consequências negativas que a prática desenvolvimentista trouxe à região. De acordo com Marcel Hazeu, do Gesterra, a atuação do diagnóstico participativo se propõe identificar ações coletivas que possam melhor a vida das comunidades, fortalecendo suas identidades e em defesa dos seus territórios.

“Nós estamos trabalhando em um diagnóstico que perpassa pelo diálogo sobre como essas empresas e o Estado olham para esse território, como elas chegam no município de Barcarena, com que intenção, como funciona na sua lógica interna e se isso faz sentido ou não faz sentido para as pessoas”, diz Marcel.

Desterritorialização

A perversidade do capital na região é tamanha que foi capaz até mesmo de desagregar comunidades, retirando de muitas famílias o direito de pertencimento, de viver, de firmar seus modos de vida em seus territórios de origem. Este é o caso da comunidade D. Manuel, localizada no território do Conde, em Barcarena, onde moravam cerca de 40 famílias. Um dos moradores era José Lúcio Negrão, que viu sua família ser despejada por uma empresa extratora de carvão mineral, um dos combustíveis fósseis mais poluentes do mundo e que agrava o efeito estufa.

“Eu morava em uma comunidade que era tradicional. A partir da implantação das empresas [que começou em 2011] nós tivemos que sair da comunidade devido à intensa poluição ao redor e aí a nossa comunidade desagregou. Nós estamos sem comunidade, mas morando aqui no Conde, mas a nossa comunidade vigora porque ainda não se fechou o processo de indenização e remanejamento […] Mas esse processo todo de saída da comunidade foi muito penoso e dolorido pra todo mundo, as pessoas se espalharam e a comunidade não teve como ficar devido à intensa poluição”, lamenta Lúcio.

De acordo com o nativo de D. Manoel, a perspectiva é de que a associação dos moradores, que ainda está ativa, possa ser transferida para Vila do Conde, para onde foram muitas famílias da comunidade, para que possam lutar por melhorias aqui onde atualmente se encontram. ?Lá era uma comunidade basicamente da agricultura e do extrativismo. Hoje a gente tá numa situação de espera angustiante e indefinida?, completa Negrão.

Diante da dura realidade, as iniciativas a serem apoiadas pelo Fundo Socioambiental se tornam ações de resistência à pressão do capital no território. Por compreender que apoio às comunidades não deve ser pautado em uma lógica de compensação ambiental, o Fundo Dema investe bastante nos processos de formação política e capacitação para a elaboração e monitoramento de projetos. Assim, a experiência fomentada com as oficinas de diagnóstico valida ainda mais esse processo formação e fortalece a luta em favor da justiça ambiental.

Vila de Beja

No dia seguinte (22), a equipe da FASE/Fundo Dema esteve na comunidade Vila de Beja. A reunião ocorreu com a participação dos Párocos de Abaetetuba, Adamor Lima, e de Vila de Beja, Marcos Furtado. Na ocasião, foi apresentado o Fundo Socioambiental Barcarena e Abaetetuba e, também, as atividades em torno do diagnóstico prévio das realidades locais.

| Beatriz Luz e Simy Corrêa, educadoras do Fundo Dema, apresentam o Fundo Socioambiental à comunidade

As informações subsidiarão as linhas de apoio do Edital a ser lançado no segundo semestre deste ano e que apoiará iniciativas coletivas de núcleos familiares das regiões de Barcarena e Abaetetuba, oprimidas pela exploração dos bens comuns por empresas instaladas no território.

O processo de diagnóstico participativo encerrará com a quinta e última oficina, a ser realizada no próximo dia 05 de julho, em Vila dos Cabanos, no município de Barcarena. O diagnóstico será apresentado pelo Gesterra e ficará à disposição da sociedade em todos os meios de divulgação do Fundo Dema.


Veja mais fotos da oficina e da reunião


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