Intercâmbio entre projetos socioambientais possibilita a troca de conhecimento
Por Élida Galvão
Fundo Dema
Localizada no bairro Bela Vista, em Novo Progresso, no Oeste do Pará, a Colônia de Pescadores Z73 de Novo Progresso, como o próprio nome já indica, tem a pesca como a principal atividade das famílias que nela residem. Por meio da Associação comunitária, que leva o mesmo nome da Colônia, em 2015 os moradores iniciaram o Projeto Rio Sustentável, apoiado pelo Fundo Dema em parceria com o Fundo Amazônia, por meio da 2ª Chamada Pública lançada.
Com o objetivo de estimular a criação de peixe, agregando valores ao pescado e incentivando a conservação do meio ambiente e sua cadeia produtiva, o projeto irá desenvolver criação de peixe em tanques rede, de forma a possibilitar o aumento da renda de 20 famílias. Após ter recebido a primeira parcela do apoio para dar início às atividades, a Associação buscou realizar um intercâmbio com outro projeto de larga experiência com este tipo de atividade. Foi então que no dia 02 de abril, integrantes do Projeto Rio Sustentável visitaram a comunidade Anã, localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, em Santarém, e que desenvolve o Projeto Peixe e Mel Produção Sustentável.
Moradores da Colônia de Pescadores Z73 observam a experiência de criação de peixe em Anã
Também apoiado pelo Fundo Dema em parceria com Fundo Amazônia, o projeto da comunidade Anã, realizado pela Associação dos Piscicultores Agroextrativistas de Anã (APPA) dá suporte à principal atividade desenvolvida pela comunidade, a de ecoturismo comunitário. Por meio do Projeto Peixe e Mel, os moradores de Anã têm a possibilidade de desenvolver diversas outras atividades, que juntas garantem o sustento das famílias ali existentes. Entre as diversas atividades desenvolvidas pela comunidade estão: criação de peixe em tanque rede, criação de abelhas sem ferrão, produção de farinha, cultivo e plantação de espécies nativas.
Com o apoio do Fundo Dema, a comunidade de Anão conseguiu construir a nova casa de ração alternativa por eles próprios produzida com insumos orgânicos, destinada à alimentação dos peixes criados em cativeiro, além de aumentar a quantidade de tanques rede e expandir a criação de abelhas sem ferrão, ampliando o número de famílias beneficiadas, gerando renda à comunidade.
Compartilhamento de conhecimento
Inicialmente previsto para ser realizado em uma comunidade localizada em Rondônia, o intercâmbio de conhecimento mudou a sua rota após a descoberta de uma experiência mais próxima, financeiramente mais viável e, portanto, possibilitando o deslocamento de um número maior de integrantes do projeto.
Dinamizadora do Fundo Dema, Rosilene Uchôa, acompanha o Projeto Rio Sustentável voluntariamente. Foi ela quem sugeriu a visita à comunidade de Anã após ter conhecido as experiências em meio a um curso de Manejo Florestal Comunitário por ela concluído. No meu ponto de vista, quando a gente vai fazer uma visita de intercâmbio tem que ser a partir de uma realidade comunitária. Não adianta ir para um projeto com mega estrutura, longe da realidade da comunidade. Este tem que ser um momento de aprendizado, pontua.
Moradora de Anã exemplifica como é produzida a ração orgânica que alimenta os peixes em cativeiro
Atuando como coordenadora do Rio Sustentável, D. Lourdes Arruda, 48 anos, saiu na sexta-feira de Novo Progresso, visitou o projeto da comunidade de Anã no sábado e retornou à sua localidade no domingo, junto com mais seis comunitários da Colônia de Pescadores. Para ela, ter acompanhado como se processa a criação de peixe em Anã foi fundamental para o desenvolvimento do projeto que já deu os primeiro passos. Pra nós foi uma experiência muito boa. Tomamos conhecimento do trabalho com os peixes que a gente não sabia [de forma aprofundada]. Ficamos sabendo o que a Associação fez para começar. Fomos lá para ver certinho como era e gostamos muito da experiência, explica.
Projeto
Vitimada por acelerada degradação ambiental, a região da BR 163, que integra o município de Novo Progresso, tem sofrido com os danos irreparáveis causados ao ecossistema e que, por consequência, ocasiona a extinção de espécies da biodiversidade.
Na Colônia de Pescadores Z73 de Novo Progresso, a atividade pesqueira protagoniza o sustento da maioria das famílias. Para os integrantes do projeto, apesar desta não ser a modalidade de criação de menor investimento, a reprodução de peixes em tanques rede democratiza o acesso do pescador ao trabalho, já que ele não precisa ser proprietário de terra para o exercício de atividade que garante a sua subsistência. Por lá, o recurso hídrico continua sendo um bem comum.
Integrantes do Projeto Rio Sustentável retornam a Novo Progresso com acréscimo de conhecimento
Dessa forma, a partir da criação de peixes em tanques rede, o Projeto Rio Sustentável almeja sensibilizar os pescadores sobre a importância da conservação dos recursos naturais; garantir renda às famílias e capacitá-las tecnicamente com base na educação ambiental; promover segurança alimentar à população; contribuir para a redução de pesca predatória e degradação dos recursos pesqueiros, além de fortalecer a Associação da Colônia de Pescadores Z73 de Novo Progresso.
Espera-se com isso, possibilitar aos comunitários uma reflexão sobre a importância de se exercer um modelo de desenvolvimento alternativo e não predatório, pautado em uma economia de subsistência e que garanta a manutenção dos bens comuns.
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> Veja fotos do Projeto Peixe e Mel Produção Sustentável, na comunidade Anã