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20/11/2019
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 4 minutos

MANIFESTO PELO BEM VIVER

PAE LAGO GRANDE  – TERRITÓRIO COLETIVO LIVRE DE MINERAÇÃO


Criado em novembro de 2005, o Projeto de Assentamento Agroextrativista da Gleba Lago Grande (PAE Lago Grande) tem uma área de aproximadamente 250 mil hectares e conta com 144 comunidades, onde moram cerca 35.000 pessoas.

Nós vivemos em sintonia com a Mãe Terra, respeitando florestas, rios, animais e plantas. Produzimos e tiramos nosso sustento da terra, das matas e das águas. Nossas crenças, nossas tradições e nossa espiritualidade têm estreita relação com os encantados, com os sagrados e com a mística energia da natureza que compõe a nossa própria existência.

Contudo, a ganância dos que só querem lucrar com a exploração dos bens naturais ameaça nossa vivência harmônica. A lógica colonizadora historicamente viola nosso território com atividades degradadoras como exploração ilegal de madeira, pesca predatória e queimadas. E agora outro monstro ronda nosso lar – a mineração.

A mineradora ALCOA, que já explora bauxita no vizinho município de Juruti, quer fincar suas garras em nosso chão para expandir a produção de alumina. E, para alcançar seus objetivos, lança mão do discurso desenvolvimentista que, falsamente, promete a geração de emprego e renda.

Mas, estudos comprovam que a mineração é uma atividade altamente concentradora, que oferta poucos empregos que se dão, sobretudo, no início das operações. Depois a grande maioria dos trabalhadores é dispensada e vai ocupar as periferias urbanas, inchando as cidades e aumentando as demandas por políticas públicas de saúde, moradia, transporte, entre outras, cujo atendimento o poder público não dá conta de suprir. Além disso, promove a privatização da floresta, assoreamento e poluição dos rios, a seca das nascentes e o desmatamento, dificultando as nossas atividades produtivas locais como a pesca e a agricultura familiar.

A chegada da mineradora também pressiona os agentes políticos locais, regionais e federais para extinguir a titulação coletiva do nosso PAE Lago Grande. Iludem e assediam os moradores dizendo que a titulação individual é melhor para os comunitários. Mas, na verdade, o que eles querem com esse discurso é disponibilizar nossas terras para serem compradas e permitir a exploração minerária em nosso território.

Não podemos nos enganar. A definição do PAE Lago Grande como área coletiva é fruto de reivindicação das nossas comunidades, uma conquista do nosso povo que, desde os nossos ancestrais cabanos, luta bravamente em defesa do nosso território. Nossas florestas, nossos rios, nosso chão não é propriedade individual é bem comum de todos. E isso protege nossa área das garras afiadas dos projetos exploradores do grande capital.

Nossos modos de vida, nosso tempo de trabalho, nossa maneira de lidar com a terra, com as águas, com as matas, com os bichos, com os encantados, não é marcada pela lógica da acumulação capitalista. Ao contrário, nossa dinâmica é a da partilha, da vivência comunitária, da solidariedade, dos bingos e torneios beneficentes, da “paga” de visitas dos times, dos puxiruns, das trocas, das festas de santo, dos cordões de pássaros, do carimbó, do tarubá, do caxiri, do tacacá, da manicuera, da farinha, do jaraqui, do piquiá, do tipiti, do banho de rio, do mergulho no igarapé. Nosso ir e vir é orientado pelo compasso da canoa, pelas fases da lua, pelo pôr-do-sol às margens do Arapiuns, do Aruã, do Lago Grande, do Tapajós.

Com todas as riquezas que compõem nosso bem viver, não podemos nos deixar ser enganados pelos ilusórios projetos desenvolvimentistas. Nossos modos de viver e produzir são incompatíveis com atividade minerária. Por isso, nossa luta é para assegurar o PAE Lago Grande como Território Livre de Mineração.

 Sabemos que do que nossa região realmente precisa é de investimentos do orçamento público na agricultar familiar agroecológica, no turismo de base comunitária, no artesanato, na medicina das ervas, na pesca artesanal e nas tantas outras atividades econômicas que nossas comunidades praticam e que geram, estas sim, trabalho e renda para o nosso povo. Não precisamos de megas obras, mas de infraestruturas descentralizadas que favoreçam o escoamento da produção e a locomoção interna da nossa população.

Por tudo o que já mencionamos, a I Romaria do Bem Viver, que reuniu 1.300 pessoas, é o nosso ANÚNCIO de que a sociedade pela qual lutamos não é a capitalista, do consumo exagerado e da destruição da floresta. É a sociedade do bem viver em que nosso sustento e nosso bem estar, a vida da nossa e das futuras gerações estão essencialmente vinculados à preservação da natureza.

Referendamos o PAE Lago Grande como território coletivo e não vamos permitir que os exploradores retalhem nosso chão em áreas individuais para serem adquiridas por nossos aniquiladores. Vamos denunciar e enfrentar todos os oportunistas que querem negociar nosso território.

Pela memória dos nossos ancestrais cabanos nos COMPROMETEMOS a lutar a fim de proteger nosso território para a reprodução dos nossos modos de vida, garantindo a titulação coletiva, pois é a coletividade a marca histórica do nosso povo.

PAE LAGO GRANDE – TERRITÓRIO LIVRE DE MINERAÇÃO!

PAE LAGO GRANDE – TERRITÓRIO COLETIVO

PAE LAGO GRANDE – TERRITÓRIO DO BEM VIVER

Cuipiranga- Santarém/PA – Amazônia – Brasil, 16 de novembro de 2019.