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23/02/2023
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Geral
Leitura: 4 minutos

Matheus Otterloo recebe maior honraria da cidade de Belém

Matheus Otterloo (camisa branca na frente) está no Fundo Dema desde a sua criação. Foto: Marcos Barroso/Agência Belém

Dono de uma linda história de luta e resistência em defesa dos direitos humanos e em defesa da Amazônia e seus povos, Matheus Otterloo, ex-presidente do Comitê Gestor e atual assessor do Fundo Dema, recebeu a comenda Francisco Caldeira Castelo Branco, considerada a mais importante honraria promovida pela prefeitura de Belém (PA).

A homenagem foi realizada no dia do aniversário de Belém, 12 de janeiro, na Igreja de Santo Alexandre. Além de Matheus, outras 24 pessoas receberam do prefeito, Edmilson Rodrigues, fez a entrega da comenda – que leva o nome do capitão português responsável pela expedição, a qual, em 1616, formou um povoado colonial entorno de um forte considerado o embrião da cidade de Belém – a

História

Matheus Henricus Antonius Otterloo, filho de Johannus Henricus Ricardus Otterloo e Maria Antonietta van Eck Otterloo, nasceu no dia 3 de setembro de 1936, em Arnhem, cidade nos Países Baixos (Holanda).

Formado em Filosofia e Teologia, atuou na Igreja Católica da Holanda, como integrante da Congregação do Espírito Santo. No contexto do intercâmbio de ação se deslocou em 13 de dezembro de 1963 para o Brasil, passando, no período de três anos, pelo processo da aculturação nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Amazonas.

Em 1966, ao ser deslocado para Belém, para assumir a Igreja de Santa Terezinha, no bairro do Jurunas, junto com uma equipe da Congregação, se inseriu na pastoral de base comunitária da paróquia. Alimentado pelos princípios da Teologia da Libertação, se engajou em diversas ações em defesa das comunidades oprimidas ainda no contexto da ditadura, mas já envolvido nas aspirações democráticas, contribuindo na luta pelos direitos humanos e pela reconquista da democracia.

Em 1970 completou a sua formação com o curso de Especialização em Desenvolvimento Comunitário, pela UFF/RJ. Em 1972 validou a sua formação filosófica na universidade de São João del Rei, e se inseriu nos quadros das Ongs brasileiras, na região metropolitana de Belém e no interior do estado do Pará.

Em 1974, casou-se com a pedagoga e educadora popular Aldalice Otterloo, que atuava no bairro do Jurunas, no Movimento de Educação de Base.

Acompanhado de sua esposa, Aldalice Otterloo, Matheus recebe comenda do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues

Matheus Otterloo tem a maior parte da sua história ligada à existência das ONGS, na Amazônia, entre elas Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Centro de Estudos e Práticas de Educação (CEPEPO), Universidade Popular (UNIPOP), Sociedade Paraense em Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), e outras ongs militantes com atividades orientadas principalmente em torno dos processos formativos e organizativos da educação popular de base freireana.

A conjuntura, caracterizada pela luta contra a ditadura ocorrida na década de 1960 até início da primeira metade dos anos 80, além de uma carestia absurda gerou uma situação adversa, Matheus já como educador da FASE, participou da luta da periferia da região metropolitana de Belém pelos direitos básicos. A criação da Comunidade de Base do Jurunas  (COBAJUR) se insere na articulação com outras lutas que já emergiam nas periferias de Belém como o direito de morar, escola para todos, luta pelo transporte, saneamento básico, luta pela água, entre outras, possibilitando a criação da Comissão dos Bairros de Belém – CBB e  por meio dela se ampliando a participação popular.

Matheus também esteve sempre presente na luta pelos direitos dos povos da Amazônia, da Democracia e defesa dos Bens Comuns e com relações estreitas com processos ligados a organizações partidárias de esquerda. Teve uma participação importante na articulação de ativistas da Igreja Católica da Europa no apoio às ONGs brasileiras que atuavam no campo da democratização da sociedade e na defesa dos direitos humanos.  

Como uma vocação que se imprime com força na sua vida, Matheus, através da sua presença na FASE Amazônia, foi protagonista direto da construção e evolução do Fundo Dema, enquanto fundo de justiça socioambiental, resultado da ação mobilizadora dos movimentos sociais da região da Transamazônica e Xingu, denunciando grileiros e outros criminosos que pela ganância capitalista.

O Fundo Dema chega aos 20 anos de existência, já tendo apoiado mais de 600 projetos comunitários desenvolvidos por milhares de famílias e organizações de povos originários, quilombolas e agroextrativistas que desenvolvem iniciativas de preservação da floresta, produção de alimentos e de defesa de seus territórios. Matheus Otterloo tem o reconhecimento dessas populações por seu posicionamento de fazer do Fundo um instrumento, não apenas de desenvolvimento local e comunitário, mas também de construção do protagonismo dessas populações como verdadeiras e verdadeiros guardiões dos bens da natureza.

Por tudo isso, Matheus é reconhecido pela sua luta, militância e perseverança. É reconhecido, sobretudo, pela coragem com que sempre atuou frente aos desafios e pela resistência a qualquer projeto de sociedade opressor, destruidor da natureza e que se oponha à vida.