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21/01/2022
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 5 minutos

Rede de solidariedade realiza ação de combate à fome

Por Élida Galvão

Em parceria com o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), o Fundo Dema realizou a entrega de 560 cestas de alimentos a famílias em situação de vulnerabilidade social, em Belém. A distribuição das cestas iniciou na manhã desta quinta-feira (21), na sede Armazém do Campo, no bairro da Cremação, em Belém (PA).

Banana, muruci, mel, farinha d’água, jerimum, urucum, tucupi, goma, ovo caipira, foram alguns dos alimentos que compunham as cestas doadas. Muito mais que distribuição, a iniciativa se traduziu em partilha, em solidariedade e na luta pela segurança alimentar e nutricional e pela reforma agrária popular.

“A doação de alimentos é uma das ações humanitárias que a sociedade civil brasileira tomou a iniciativa de realizar frente a essa situação lamentável de pobreza e fome. É uma ação com caráter político para denunciar a situação em que essa população se encontra. A fome tem pressa e por isso essa rede de solidariedade realiza ação de combate à fome, para dar uma resposta rápida às famílias que vivem nas periferias, sem emprego, moradia, sem comida”, considera Graça Costa, presidenta do Comitê Gestor do Fundo Dema, gerido pela Federação de Órgãos Para Assistência Social e Educacional (FASE), que este ano completa 60 anos. O momento celebrou, também, os 38 anos do MST.

“Eu peguei a cesta e dividi os alimentos com minha nora e minha neta. Isso significou muito pra gente. A situação não está fácil”, relata Margarida Lira, moradora do bairro da Terra Firme.

A ação tem mobilizado dezenas de voluntários que vêm protagonizando o fortalecimento de uma grande rede de solidariedade de combate à fome e valorização da agricultura familiar camponesa. Organizações dos movimentos populares vêm somando forças, de forma a amenizar os impactos da fome às famílias em vulnerabilidade social.

Em Belém, a distribuição de alimentos contou com o apoio do Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará (Gempac), Coletivo de Comunicação Popular Tela Firme, Cursinho Popular TF Livre, Grupo de Mulheres Brasileiras (GMB), Grupo de Carimbó Tamuatás do Tucunduba e Grupo de Resistência de Travestis e Transexuais da Amazônia (Greta). Cada organização recebeu cerca de 70 cestas que foram distribuídas a famílias das comunidades que as cercam.

“A fome tem pressa e por isso essa Rede de solidariedade realiza ação de combate à fome, para dar uma resposta rápida às famílias que vivem nas periferias, sem emprego, moradia, sem comida”, considera Graça Costa.

Cecília Cordeiro, integrante do GMB, fala sobre a doação do alimento a mulheres e a importância da alimentação saudável. “A cesta veio em um momento muito bom. A gente se sente melhor em saber que temos alimento saudável. Nós conseguimos ajudar várias mulheres, reunimos para falar sobre a questão da fome, a produção do MST, que alimenta muita gente. Não é só pela questão do alimento, mas saber que temos essa corrente de solidariedade”.

Para Jane Cabral, da direção Nacional do MST no Pará, a solidariedade não é simplesmente dar um prato de comida a alguém, mas ela se cultiva no dia-a-dia. “A solidariedade vem carregada de um desejo de mudança para uma sociedade realmente justa. E para isso, a gente precisa cultivar esse valor. Para a gente foi muito importante essa ação em parceria com o Fundo Dema porque a gente também trouxe nessa parceria outros movimentos. Os coletivos não vieram somente receber, mas também construíram esta ação, seja na articulação, carregando alimentos, organizando as cestas, fazendo o almoço, limpando o espaço, trocando afeto. Isso é uma maneira muito digna de comemorar aniversários, como os 38 anos do MST e os 60 anos da FASE”.

Combate à Fome

Tendo retornado ao Mapa da Fome, o Brasil passa a enfrentar um dos piores cenários já vividos nos últimos anos, com a miséria escancarando de forma trágica o desmonte das políticas públicas sociais. Programas como o Bolsa Família e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), extintos, eram considerados estratégias importantes para manter o país fora da situação de fome, desde de sua retirada do Mapa da Fome, em 2014.

“A solidariedade vem vencendo a fome e o preconceito. O Fundo Dema está alcançando populações vulneráveis e que sofrem muito preconceito”, diz Simy Corrêa

O quadro acentua o problema da insegurança alimentar e nutricional, que atinge um quarto dos brasileiros, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), lançados em julho de 2021; ou seja, são 49,6 milhões de pessoas, incluindo crianças, passando fome por falta de recurso financeiro. E nem é preciso fazer muita pesquisa para constatar a situação caótica, pois o aumento da pobreza extrema é dolorosamente visto por todos os cantos das cidades.

Na contramão da violação da dignidade humana, a ação do Fundo Dema se estende a outros territórios de atuação, como Transamazônica, BR 163, Baixo Amazonas e Nordeste Paraense, beneficiando famílias atingidas pelos grandes negócios da mineração, do monocultivo, da água, da madeira, por exemplo, e que retiram terras, direitos, identidades das populações tradicionais.

O Grupo de Carimbó Tamuatás do Tucunduba entrega alimentos agroecológicos a famílias da periferia de Belém

De acordo com, Simy Corrêa, coordenadora executiva do Fundo Dema, ao todo serão distribuídas seis mil cestas de alimentos durante seis meses, divididas em ações locais, abrangendo o acesso de diversos grupos sociais à alimentação saudável. “A solidariedade vem vencendo a fome e o preconceito. O Fundo Dema está alcançando populações vulneráveis e que sofrem muito preconceito, como os LGBTQIA+, povos de terreiros, refugiados e estudantes indígenas, quilombolas, por exemplo”.

Para a coordenadora, é muito importante que o Fundo Dema esteja à frente dessa construção de fortalecimento de grupos sociais diretamente afetados pelos grandes projetos de destruição da Amazônia, pelo agronegócio. “A ação em Altamira foi para a periferia diretamente atingida pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte. São as periferias que crescem nessas cidades, fruto do processo de exclusão e expulsão dos territórios. Não deixam de ser refugiados ambientais e refugiados de um projeto de morte. Assim também como a ação em Santarém, são refugiados da soja, do avanço do agronegócio na região”, diz Simy

Transamazônica

Na região da Transamazônica, a distribuição de cestas ocorreu no dia 21 de dezembro de 2021, em Altamira (PA). Foi composta uma comissão organizadora integrada por representantes do Fundo Dema, da Diocese de Altamira, Movimento das Mulheres Trabalhadoras Campo e Cidade (MMTCC), Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP), além de representantes indígenas e quilombolas.

Com a presença de 115 famílias, a comissão dialogou sobre a importância político-social da ação e promoveu um diálogo sobre os projetos de destruição na região provocados principalmente por garimpeiros, madeireiros, latifundiários e também por intermédio governamental. “Alertamos sobre os projetos de morte, que são reflexo de um governo que não cuida do povo, sobre a luta e resistência de Dema, a volta do Brasil ao Mapa da Fome e a negação do direito básico à alimentação. A pandemia foi um fator agravante da situação de insegurança alimentar e nutricional e a agricultura vem perdendo seu espaço para o agronegócio, destacou Suelany Sousa, educadora do Fundo Dema.