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17/11/2022
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Geral
Leitura: 4 minutos

Seminário de Agroecologia fortalece ação em Rede e articula Ação de Solidariedade realizada pelo Fundo Dema, em Trairão

O encontro também possibilitou a realização da Ação de Solidariedade promovida pelo Fundo Dema, com a distribuição de mais de 11 toneladas de alimentos

Por Élida Galvão

A rearticulação e o fortalecimento da Rede de Agroecologia foi um dos principais objetivos do Seminário ocorrido em Trairão. Foto: Vânia Carvalho

Agroecologia é vida, luta e resistência pela terra! Este foi o tema do Seminário que dialogou sobre a territorialização do agronegócio e os efeitos socioterritoriais de vida e resistência por meio da agroecologia, realizado no período de 11 a 13 de novembro, no município de Trairão (PA), na região da Transamazônica. A atividade foi articulada por uma comissão organizadora formada pela a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Rede das Associações Agroecológicas do Trairão, Paróquia Nossa Senhora de Aparecida de Trairão, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) e Fundo Dema.

Com uma dinâmica socioterritorial atravessada por conflitos fundiários, protagonizados principalmente pela grilagem de terras, desmatamento ilegal, mineração, predomínio da pecuária extensiva e do monocultivo da soja, a região da BR 163 carrega consigo uma realidade de grandes impactos ocasionados por toda tamanha exploração econômica.

Localizado naquela região, o município de Trairão (PA) não foge a essa realidade. Integrando o arco do desmatamento, a localidade é uma das que amargam sob a incidência do capital em torno de uma política desenvolvimentista, de apropriação e exploração dos bens comuns, que se contrapõe à preservação das florestas, à proteção do clima e da biodiversidade, à reforma agrária e a qualquer movimento político e econômico que ameace os grandes empreendimentos.

Neste lugar, onde as políticas públicas só chegam até o limite do beneficiamento aos investimentos mercadológicos, a criação de uma Rede de Agroecologia torna-se um ato de resistência e enfrentamento à pressão sobre a floresta, ao agravamento da crise climática e aos problemas fundiários.

O Seminário contou com a participação de mais de cem pessoas, entre agricultores e agricultoras e representantes dos movimentos sociais. Foto: Samis Vieira

Mas foi assim, com coragem e determinação que muitos agricultores e agricultoras familiares criaram, em 2006, a Rede de Agroecologia de Trairão, um movimento coletivo formado por diversas organizações sociais da região e que já chegou a contar com quase 400 associados, mas que hoje tenta superar as dificuldades enfrentadas pela pandemia do coronavírus e a falta de políticas públicas em fortalecimento da agricultura familiar.

“Nesse período pós pandemia, a gente está se organizando e fortalecendo a nossa rede. O Seminário só veio a somar , muitas famílias estão vindo nos procurar, querendo fazer parte da Rede. Além de levar esperança para o agricultor, a Rede quer fazer uma parceria com eles para que passem a usar a homeopatia da terra, eliminando o uso de agrotóxico para que seja uma alimentação saudável, até porque a gente também fornece para a alimentação escolar. O objetivo da nossa rede é buscar solução para fortalecer este grupo e para fortalecer os circuitos de comercialização”, afirma Francisca, que integra a articulação da Rede de Agroecologia do Trairão.

Analisando o processo de resgate da Rede, Graça Costa, presidenta do Comitê Gestor do Fundo Dema, desataca que foram os esforços e as resistências de organizações sociais como a Associação dos Agricultores Familiares do Batata (ASAFAB) e parceiros como a CPT, o MAB, o Fundo Dema, as pastorais sociais da igreja católica e os sindicatos dos trabalhadores rurais, tanto do trairão quanto de Itaituba, que possibilitaram com que a rede voltasse a se fortalecer.

“Hoje, já tem quase 50 produtores inscritos na rede. É um bonito movimento de retomada que eles e elas estão fazendo. As mulheres têm ali um importante papel, inclusive são elas que agregam uma importante tarefa de mobilização e da coordenação da rede. Apesar de contar com a participação de poucas entidades regulamentadas no município, elas estão presentes nos conselhos de políticas públicas. Desde 2013, as organizações articuladas na rede estão presentes no PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar] com a presença de 21 agricultores e agricultoras e 28 produtos da região estão cadastrados para serem comercializados”, diz Costa.

Conhecida como Sandra pela sua comunidade, Rosângela Pereira, presidente da ASAFAB, considera que a realização do Seminário e a distribuição de cestas de alimentos a diversas famílias se apresenta como um incentivo para que muitos agricultores e agricultoras familiares participem ativamente da Rede.

Mais de 11 toneladas de alimentos foram distribuídas na Ação de Solidariedade realizada no município de Trairão. Foto: Samis Vieira

Ação de Solidariedade

Em meio à programação do Seminário de Agroecologia, o Fundo Dema realizou mais uma ação de solidariedade, com a distribuição 300 cestas de alimentos a famílias da localidade, ampliando o diálogo sobre a retorno do Brasil ao Mapa da Fome e a situação insegurança alimentar e nutricional. Ao todo, o município foi contemplado com 600 cestas, a serem distribuídas em dias diferenciados. Isso totaliza 11,4 toneladas de alimentos doadas nesta ação.

“Hoje, para a nossa alegria, criamos a Rede Agroecológica do Município do Trairão, abrangendo também comunidades de outros municípios da BR 163. Esta foi uma ação realizada com muita participação dos agricultores e agricultoras, 300 cestas foram distribuídas no primeiro dia, com 19 quilos cada cesta, sendo 2.700 quilos da de alimentos fornecidos pela agricultura familiar”, destaca Sandra.

Luta contra os agrotóxicos

Além de dialogar sobre o fortalecimento da Rede de Agroecologia e de proporcionar a doação de alimentos, o Seminário dialogou também sobre a importância de combater o uso de agrotóxicos nas produções.

João Carlos, do Instituto Pe. Ezequiel Ramim, em Rondônia, compartilhou conhecimentos sobre a importância da homeopatia da terra para uma produção agroecológica. Foto: Graça Costa

Vânia Carvalho, educadora do Fundo Dema, falou a importância do movimento agroecológico, apresentando a atuação da Articulação Nacional de Agroecologia e sobre os impactos que o uso de veneno nas plantações provoca na saúde das pessoas, além de contaminar a água, do ar e do solo.

“Os agricultores e agricultoras familiares estão iniciando este debate. Ouvi um relato de um agricultor cuja família é uma grande produtora de hortaliça. Antes usava barragem por causa das formigas e passou a não usar mais pelas informações a que teve acesso e agora quer conhecer mais sobre a homeopatia. A produção agroecológica ressignificou a vida dele e em um dia chega a ganhar 700 Reais com a produção de hortaliças orgânicas”, disse Vânia.