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01/06/2015
Por: Equipe Fundo Dema
Assunto: Notícias
Leitura: 5 minutos

Trabalhadoras rurais de Belterra criam associação

Por Élida Galvão

Fundo Dema


Vindas de vários distritos do município de Belterra, no Oeste do Pará, cerca de 60 mulheres se reuniram para celebrar o enfrentamento dos obstáculos e a conquista de ter concretizado a criação da associação de mulheres trabalhadoras rurais do município. A vitória foi registrada no dia 16 de maio, quando mulheres vindas de Prainha, Piquiatuba, Aramamaí e do próprio centro de Belterra estiveram reunidas na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Belterra para fundar a associação de mulheres e eleger a primeira diretoria.

Localizada a 106 quilômetros de distância de Santarém, a cidade de Belterra foi contemplada com a criação da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra (AMABELA), cuja primeira eleição da diretoria ocorreu no mesmo dia de sua fundação. Durante a cerimônia, as mulheres aprovaram o Estatuto e elegeram as componentes da primeira diretoria da Associação. Em seguida, deixaram marcada a próxima assembleia que irá protagonizar a eleição do Conselho Fiscal e a aprovação do Plano de Ação.

                                                                Mulheres objetivam a conquista da autonomia econômica e política

Eleita diretora social da Associação, Selma Ferreira da Costa, 46 anos, fala com entusiasmo sobre o apoio recebido pelo Fundo Dema, por meio do Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia Luzia Dorothy do Espírito Santo, para que Associação fosse criada. “Pra mim, a maior alegria foi que através desse apoio conseguimos chegar nos distritos e buscamos o que as mulheres mais precisavam. Sentimos na pele o fortalecimento da autonomia das mulheres. O Fundo Dema vem com os objetivos que deu pra gente se fortalecer com as capacitações que a gente teve. A gente teve um fortalecimento muito grande”.

Orgulhosa em ter participado da construção da AMABELA desde o início, a trabalhadora rural fala ainda sobre as perspectivas futuras de atuação da Associação. “O objetivo agora é que a diretoria trabalhe com essas mulheres, fortalecendo a base no reflorestamento, na criação de hortaliças, para mostrar que as mulheres podem ser independentes sem depender de ninguém para o trabalho. Mostrar pra elas que enquanto trabalhadoras rurais, a gente tem que se unir e levantar a cabeça. Tenho muito a agradecer ao Fundo Dema, a Sara [da Fase Amazônia] e a Graça [do Fundo Dema] por ter nos dados essa oportunidade que foi muito maravilhosa”   complementa Selma se referindo ao apoio dado pelo Fundo Dema, por meio do Fundo Autônomo de Mulheres, e da Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional – Programa Amazônia.

Fundo Dema apoia protagonismo das mulheres

A fundação da AMABELA é resultado do Projeto ‘Criação e Legalização da Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra’, anteriormente sob responsabilidade da Associação Feminina de Belterra e depois da Casa Familiar Rural de Belterra. Submetido ao primeiro Edital do Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia Luzia Dorothy do Espírito Santo, em 2014 o projeto surge no sentido de fortalecer a luta das trabalhadoras rurais da localidade, no sentido de combater a dinâmica socioeconômica predatória desenvolvida por grandes empresas que atuam com o monocultivo de soja, pecuária extensiva e exploração de madeira, e que causam desastrosos impactos ambientais, deixando a população à margem do desenvolvimento.

Os impactos do monocultivo da soja, por exemplo, afetam tanto os trabalhadores e trabalhadoras das áreas rurais quanto urbanas, já que grande parte destas plantações se encontra na área urbana. O veneno jogado nas plantações polui o ambiente e provoca sérios problemas de saúde na população. Isso sem contar com o aumento no índice do êxodo rural que incha o centro urbano, aumentando os problemas sociais na cidade.

Diante da preocupante realidade, as mulheres das comunidades da área de abrangência do projeto resolveram se unir para fortalecer a agricultura familiar em detrimento da exploração insustentável dos recursos naturais que gera fortes impactos na economia local. São mulheres que vivem da pequena agricultura, do trabalho artesanal, da caça e da pesca voltadas à sobrevivência familiar.

Observando também a persistência de uma cultura machista e paternalista na localidade, que ainda subordina muitas mulheres aos mandos e desmandos de seus companheiros, um grupo, que passou a participar dos encontros promovidos pelo Fundo Autônomo de Mulheres e a partir das experiências compartilhadas nestas atividades, resolveu se unir para criar a Associação de Mulheres.

Inicialmente, a organização se chamaria Associação Feminina de Belterra (AMTRUBEL), mas depois optou-se pela nomenclatura ‘Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Belterra’ por assim conseguir ampliar o entendimento quanto aos objetivos da entidade. Justamente por, até então, não ter uma associação específica de mulheres rurais no município e entorno dele, a partir das experiências no Fundo Autônomo surgiu a ideia de se criar uma entidade organizada e articulada para levar o debate do direito e da autonomia econômica e políticas das mulheres às comunidades rurais, onde ainda são muito presentes os casos de violência física e psicológica contra as mulheres.

“Esta é uma conquista. As mulheres estão em pequenos grupos e há tempos queriam se organizar. Com o apoio do Fundo de Mulheres se sentiram motivadas. Elas perceberam a necessidade para se organizar e com isso tiveram muitas discussões. Foi um processo muito emocionante quando começaram a perceber a possibilidade de mudar não só a sua realidade, mas das outras também. De começar a despertar nas mulheres o interesse em mudar de vida não a partir de um interesse pessoal, mas como uma construção solidária e coletiva”, avalia Sara Pereira, educadora da Fase Amazônia e que também acompanhou o trabalho desenvolvido.

Agora, depois de juridicamente constituída e de acordo com o que se propõe, a AMABEL tem a importante missão de proporcionar discussões acerca do empoderamento das mulheres no que tange o conhecimento dos seus direitos e ao seu autoconhecimento como sujeitas de direitos e protagonistas de suas próprias histórias. Além disso, deve possibilitar a captação de recursos por meio de projetos para fomentar a autonomia econômica das mulheres, apoiando atividades produtivas rentáveis e sustentáveis do ponto de vista social, econômico e ambiental.

Sobre o Fundo Autônomo de Mulheres

O Fundo Autônomo de Mulheres Rurais da Amazônia Luzia Dorothy do Espírito Santo teve seu processo de constituição alavancado no ano de 2014, como mais uma experiência do Fundo Dema em apoiar segmentos importantes da população rural do Oeste do Pará. Atualmente, o Fundo está apoiando oito projetos por meio do I  Edital, entre eles o da AMABEL, assim como outros de produção agroecológica e de organização de associações autônomas de mulheres, a exemplo da associação das mulheres indígenas do Alto Mapuera, no município de Oriximiná.

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